A imagem de uma criança colhendo flores próximo de onde eu estava hoje me chamou a atenção, não só pela beleza que a cena carrega em si, mas por me encantar com o mistério da colheita.
Interessante pensar que uma semente tão desprovida de glamour, pode gerar tantas expectativas e que após o tempo certo, a colheita muito provavelmente é garantida. E ainda, apesar de garantida, pode trazer o inesperado. Pode ser infinitamente mais do que pensamos…
Quando olho para o mercado de trabalho, me alegro com o aumento dos empregos formais. Em agosto do ano passado tivemos o melhor índice se comparado ao mesmo período desde 2013, no entanto, não consigo parar de pensar em qual de fato é o percentual das pessoas que conseguem usufruir dignamente do fruto do seu salário.
Imagine o trabalho como um plantio e a colheita como o salário tão aguardado. Quantos de fato conseguem usufruir do bem do seu trabalho?
Não estou falando de sobrevivência e sim de regozijo.
Quantos se regozijam dignamente do fruto do seu trabalho?
Uma pesquisa realizada pelo IBGE em novembro identificou que 13,5 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 8,00 por dia.
Atualmente o valor do salário mínimo foi estabelecido em R$ 1.039,00, configurando reajuste 4,1%, índice abaixo da inflação, ocasionando uma perda do poder aquisitivo. Recentemente o ministro da economia Paulo Guedes autorizou alteração deste valor, justamente para dar um fim a essa diferença.
Existem dois vilões que afetam a renda: a inflação e os impostos diretos e indiretos. Como no Brasil todos pagam os mesmos impostos sobre produtos e serviços, as pessoas que ganham menos são mais atingidas.
Será que o crescimento econômico melhoraria de forma direta a relação emprego x renda?
Será que gerar mais empregos e mais renda aumenta o nosso grau de desenvolvimento social?
Estudos comprovam que, apesar das crises das últimas décadas, o Brasil teve capacidade de geração de empregos, no entanto, tão somente gerar empregos e até mesmo aumentar o PIB, não necessariamente melhora a relação emprego x renda. Precisamos melhorar a qualidade do emprego mais do que o número de empregos e distribuir melhor a renda mais do que gerar mais renda.
Claro que o crescimento econômico afeta a condição de vida das pessoas, principalmente das classes menos privilegiadas, porém a velocidade em que se dá o desenvolvimento social é historicamente menor do que a do crescimento econômico. Com ações assertivas, o Estado é capaz de reverter esse quadro.
Sabemos que o desenvolvimento social no Brasil é tema crítico, contudo o que gostaria de chamar a atenção é para necessidade de termos reformas políticas eficazes, que melhorem a relação emprego x renda e impulsionem o desenvolvimento social. Projetos sociais que favoreçam as minorias, investimentos na qualidade do ensino, políticas públicas eficientes e parcerias com o setor privado visando o engajamento social são só algumas delas.
Não temos desenvolvimento social apenas com o crescimento econômico. Existe o risco de gerarmos riqueza e não melhorarmos o bem-estar da população.
Arregacemos as mangas, há muito a fazer!