Jeito Certo Consultoria

Não à guerra, sim à paz. Quais são as armas do Brasil?

Dificilmente vivenciamos situação mais desconfortável e triste do que uma guerra. Há vários tipos de guerras, e em hipótese alguma, eu gostaria de minimizar a guerra que está posta entre a Rússia e a Ucrânia, confronto que tem vitimado milhares de soldados (12.000 soldados russos, dado disponibilizado no último dia 13 de março), além de civis, dentre eles bebês e crianças.

O mundo está horrorizado com esse retrocesso. Se é que podemos chamar de involução, o que mais parece um estagnamento. Contudo, a guerra a qual gostaria de chamar a atenção é a guerra interior.
Como popularmente costumamos ouvir, “transbordamos do que estamos repletos”, as guerras interiores são sem margem de dúvidas as propulsoras das guerras mundiais.

Nossa mente é o nosso principal campo de batalha, as guerras que travamos com nós mesmos, essas precisam ser vencidas a cada dia.

Trabalho com educação corporativa e não são poucas as vezes que preciso explicitar em um treinamento para lideranças que a primeira pessoa que deve ser liderada por nós, somos nós mesmos.

Auto liderança e autoconhecimento nos ajudam a estabelecer as prioridades corretas. Internalizamos muito bem essa teoria, mas na prática a história é bem diferente.

Líderes autocráticos, irracionais e expansionistas são difíceis de frear…

Recentemente li um estudo realizado pelo economista David Hemenway, professor da Universidade de Harvard e diretor do Harvard Injury Control Research Center (Centro de Pesquisas em Controle de Ferimentos/tradução livre).

Segundo os seus estudos, ter uma arma em casa aumenta em 22% as chances de acidentes. Em suas pesquisas ele questiona, por exemplo, com qual frequência é possível ter um invasor ou criminoso em casa versus com qual frequência é possível esquecer ou viabilizar uma arma ao alcance de uma criança.

Uma outra questão interessante de ser analisada é qual a habilidade de uma pessoa que não possui treinamento específico para atirar em outra pessoa, considerando estresse e alvo em movimento.
Como administrar o estresse de casos inusitados?

Ter uma arma em casa não poderia aumentar as chances de acidentes fatais em casos de discussões e afrontas?

De acordo com o especialista, diversos estudos indicam que os riscos de ter uma arma em casa superam os benefícios.

E por que pensamos em armas como proteção e solução? Corro o risco de ser simplista na resposta, mas acredito que a grande causa é o entendimento de que o maior problema sempre está do lado de fora.
O problema é o outro. Eu preciso de mecanismos externos para corrigir as incoerências, as imperfeições, o “mal funcionamento” causado pelo “outro”. Caso ele não se “conserte” eu invado a “casa dele” e se ele vier até aqui, será recebido a balas.

Quando na verdade, o maior problema está no mindset, a maneira de pensar. A forma de enxergar a mim, o mundo e o outro.

Será sempre mais fácil apontar caminhos de reconciliação reformulando o agir do outro.
Muito embora possa haver, e é bem possível que haja, falhas do lado de fora, a paz sempre precisa começar do lado de dentro.

É certo que por vezes o dito popular, “quando um não quer, dois não brigam” não funciona, ainda assim, caso venha uma guerra em nossa direção não devemos desistir de buscar a paz.

Quanto às armas, segundo David, ter uma arma em casa torna a sociedade menos segura, eleva o risco de homicídios, além de facilitar o roubo por parte dos criminosos.

Quanto mais armada estiver a sociedade civil, maior será a probabilidade do uso inapropriado.
Que possamos nos armar de respeito ao próximo, boa convivência, empatia e paz.

Afinal de contas, as guerras que verificamos hoje (vírus, conflitos geopolíticos entre a China e o Ocidente, a China apesar de mais globalizada não se aproximou do Ocidente como alguns previam, e agora confrontos entre a Rússia e a Ucrânia), nos faz pensar em uma preocupação que a era da “hiperglobalização” instaurada nos anos 90 com a integração econômica e financeira mundial, havia nos distanciado.

Agora faz-se necessário trazer a mesa novamente e atentar-se um pouco mais para as questões geopolíticas e de segurança nacional. A ideia não é perder os ganhos de integração comercial e fluxos de investimentos conquistados com a globalização, e sim encontrar o ponto de equilíbrio entre a soberania nacional e a comercialização com os mercados internacionais.

Que o Brasil possa em meio às mudanças no cenário da economia global, entender o seu papel em uma economia mais fragmentada, emergir disseminando inovação e produtividade, e para isso, investindo nos alicerces, nas armaduras da diplomacia e da educação.

Artigo publicado no JB em 19/03/2022.