Jeito Certo Consultoria

Como cativar os talentos em uma organização

Daniel Kahneman, psicólogo e pesquisador que ganhou o prêmio Nobel de Economia, juntamente com um grupo de renomados cientistas das universidades de Princeton, Califórnia, Michigan e Stony Brook, realizaram uma pesquisa com aproximadamente 1000 pessoas perguntando a elas o que mais as deixavam estressadas ao longo de um dia. A grande maioria respondeu que o fator mais gerador de estresse diário é ir e vir ao trabalho, e trabalhar.

No mesmo estudo foi questionado por eles o que mais as deixavam felizes e a resposta quase unânime foi, os relacionamentos.

Não é novidade que nossos relacionamentos são a causa de nossas maiores alegrias, mas também nos proporcionam muitas dores.

A grande questão é, até quando as empresas vão omitir a atenção devida aos problemas de relacionamentos.

Há quem diga que mais importante do que a empresa que se trabalha é o chefe que se tem, dando a entender a triste realidade de que dentro de uma mesma empresa é possível existir várias culturas diferentes, podendo ser, mais ou menos flexíveis, ou até mesmo, mais ou menos aderentes aos valores e propósitos da instituição.

Falamos de experiência dos colaboradores, clima organizacional, investimos em mimos, treinamentos e capacitações, mas o quanto de fato estamos envolvidos e engajados com essas temáticas? Quanto investimos em entrosamento?

Recentemente li um artigo que explicitava a importância da participação e o envolvimento genuíno das lideranças como condição sine qua non para o sucesso das ações de integração entre os times.

A intensidade da presença da alta liderança em ações participativas desenvolvidas para extrair o melhor de suas equipes é determinante para o atingimento dos objetivos. Ela forma laços!

Segundo um estudo da Mayo Clinic, organização sem fins lucrativos especializada em saúde, amizades verdadeiras e com propósito são importantes no desenvolvimento profissional, ajudam na autoestima, reduzem o estresse e aumentam a sensação de pertencimento.

O assunto precisa ser tratado com bastante atenção, no entanto, algumas lideranças se preocupam tanto com os resultados, que esquecem de olhar as pessoas.

Como disse certa vez Simon Sinek, “os líderes não são responsáveis pelos resultados, são responsáveis pelas pessoas que trazem os resultados.”

É preciso tirar o olhar do “placar” e colocar o foco no “time que está em campo”.
Instituições que focam apenas nos resultados correm o risco de legitimar comportamentos não saudáveis.

E como podemos desconstruir esse cenário?

Construir relacionamentos envolve primeiramente o interesse. Diálogos construtivos e comunicação assertiva acontecem quando nos dispomos a eles.

Transparência, humildade, respeito e empatia precisam balizar nossas conversas. Sair da “criptografia” é um dos nossos desafios, por vezes falamos algo bem diferente do que gostaríamos de comunicar e desejamos que o interlocutor entenda o recado.

Outro fator importante também é o acolhimento, é preciso menos xenofobia, aversão ao diferente, e mais philoxenia, acolhimento ao diferente.

Em uma instituição todos somos diferentes, não existe diversidade sem acolhimento. Ao ouvir o outro, eu acolho, ao procurar entender como o outro está recebendo uma mensagem, eu acolho, ao perceber e respeitar as diferenças, eu acolho.

É essencial pensar, analisar e sempre que necessário ajustar a nossa fala. Pensar antes de falar parece ensinamento para crianças, mas nunca foi tão importante relembra esse fato aos adultos.

A era tecnológica, dentre seus inúmeros benefícios e ganhos, nos trouxe um problema. É possível que alguns de nós, por vezes, nos transformemos em avatares.

Nos revestimos de uma “forma digital”, falamos coisas em meios digitais que dificilmente teríamos a mesma coragem se estivéssemos frente a frente com a pessoa a qual destinamos as palavras.

Isso já seria ruim se não tivéssemos que encontrar a pessoa, no entanto, torna-se pior ainda quando iremos inevitavelmente encontrá-la no café do corredor ou na sala ao lado.

Vale lembrar que relacionamentos fragmentados e mal resolvidos não se reconstroem sem que haja espaço para o perdão. E perdão verdadeiro não acontece sem arrependimento legítimo.

É preciso refletir, se arrepender e expressar com palavras um pedido de desculpas para que a relação seja restaurada.

Uma empresa onde as relações são saudáveis, os deslizes são enfrentados, e o perdão é concedido, tem chances muito maiores de alcançar a alta performance, além de poder usufruir de um conceito popularizado pela escritora e palestrante Emilie Wapnick, a multipotencialidade.

Trabalhamos nos especializando mais e mais, no entanto, há uma outra forma de obter êxito profissional, através das várias potencialidades dos talentos dentro de uma organização.

Onde há um ambiente com clima positivo as pessoas podem ser mais colaborativas e agregar com seus dons e talentos em diversos projetos.

Há pessoas que têm habilidades para atuar em várias áreas diferentes e podem contribuir com iniciativas e atividades que conectam suas expertises e os objetivos da organização.

É interessante pensar que 90% das pessoas que não se sentem felizes no trabalho, não é por causa do salário, benefícios, carga horária, mas sim pela falta do olhar para o outro.

Construir relacionamentos saudáveis é a maior ferramenta de atração de talentos que uma empresa pode ter.

Resumidamente, talentos precisam fluir dentro das organizações, construindo ambientes mais diversos e inclusivos, afinal de contas “é legal ser importante, mas é mais importante ser legal!

Artigo publicado no JB em 07/04/203.