Discernir é perceber claramente, distinguir, diferenciar. Dizemos que uma pessoa tem discernimento quando ela facilmente percebe o que não foi dito, enxerga o que não está “posto a mesa”, extrai o que não foi demonstrado de forma explícita. Ela compreende as mudanças climáticas, variações que não necessariamente se referem a temperatura ou as estações.
É tempo de fechar mais um ciclo, fim de ano nos remete a pensar em realizações, conquistas, mas também nos faz lembrar momentos de decepção e perdas.
2022 foi ano de eleição, Copa do Mundo, um ano considerado pós-pandêmico, muito embora uma grande parcela da população tenha pegado a doença. Um ano de inflação alta, juros mais altos ainda, a fim de tentar contê-la e harmonizar a política monetária.
Um ano de grandes expectativas, mas como medir as realizações? E para que mesmo devemos mensurá-las?
Realizações podem ser vistas sob a ótica da responsabilidade e/ou da felicidade. Realizar porque é preciso, é indiscutível. E quanto a realizar para nos sentirmos felizes, será mesmo esse o caminho para a felicidade?
A ciência da felicidade, matéria muito discutida por universidades renomadas como, Harvard, Yale, Stanford, entre outras, tem nos ensinado muito a respeito. Os pesquisadores, Sonja Lyubomirsky, Kennon Sheldon e David Schkade descobriram que 50% da nossa felicidade é genética, ou seja, não muda.
Apenas 10% da nossa felicidade tem ligação com as circunstâncias atuais e externas da nossa vida, os 40% restantes são provenientes das atividades que escolhemos realizar no dia a dia.
Que interessante!
É preciso aprender a ser feliz, o apóstolo Paulo em uma de suas cartas aos Filipenses escreveu que “aprendeu a estar contente em toda e qualquer situação.”
A felicidade se constrói a partir das nossas escolhas, e isso seria fácil se não tivéssemos que remar contra “alguns ventos”, nossos vieses.
O primeiro viés que pode nos atrapalhar é o viés da negatividade.
Somos seres naturalmente negativos. Alguns estudos mostram que as emoções consideradas negativas são em média três a quatro vezes maiores do que as emoções consideradas positivas. Repare, por exemplo, que notícias ruins chamam mais atenção do que notícias boas.
Quando seu filho lhe mostra um boletim com várias notas boas e duas notas ruins, o que sinceramente lhe chama mais atenção? Nosso cérebro está acostumado a procurar por coisas ruins com mais frequência.
Um outro viés que nos prejudica é o viés da confirmação. Buscamos dados e estatísticas que comprovam nossas crenças, ao invés de buscar objeções que validem nossas opções.
Esse é um comportamento perigoso, faz com que percamos a oportunidade de ouvir, ou até mesmo, acolher o “novo”. Ele empobrece as nossas decisões, se levarmos em consideração o que os cientistas chamam de escalada do comprometimento, a situação é mais séria ainda.
E por quê?
Porque não gostamos de voltar atrás, preferimos ser consistentes, do que estarmos certos. A maioria de nós não gosta de ser inconsistente, e mudar de ideia ou admitir erros, pode ser confundido com sinais de fraqueza. Esse inclusive é um dos motivos do agigantamento da polarização de nossos dias, somos justificadores de alto gabarito.
Contudo, nem todas as constatações científicas nos desfavorecem, o efeito contágio pode nos auxiliar, e muito.
O médico e sociólogo, Dr. Nicholas Christakis, cientista da Universidade de Yale, em parceria com o Dr. James Fowler, professor de teologia e desenvolvimento humano, Universidade da Califórnia, comprovaram que nossas emoções se espalham para outras pessoas e que essas pessoas espalham para outras, sendo possível influenciá-las em até 3 graus de separação nas redes de pessoas.
Somos influenciados em nosso ambiente de trabalho, por exemplo, se estivermos perto de uma pessoa que gostamos, nossa produtividade aumenta. Equipes produtivas podem alcançar o que Reed Hastings e Erin Meyer chamam de densidade de talentos.
Somos influenciados e influenciamos o comportamento das pessoas ao nosso redor. Daí a importância de discernimos o que estamos sentindo, o que tem sido sugerido, e como estamos nos comportando.
Discernir se estamos buscando pessoas que nos ajudam a comprovar nossas atitudes e pensamentos, ou se de fato estamos à procura do crescimento e desenvolvimento que nos tornam mais felizes.
No mundo corporativo é impactante perceber o quanto é possível influenciar e potencializar a cultura da organização, e consequentemente corroborar com o aprimoramento da entrega final. A cultura deve ser reconhecida como importante aliada à estratégia de qualquer negócio, e precisa ser vivenciada de forma a contribuir com a alta performance, proporcionando o clima positivo desejado por toda empresa.
Concluo esse artigo lembrando que é sempre tempo de refletir, nunca é tarde para mudar. Há um novo tempo a caminho, tempo em que a tecnologia aproxima e afasta, tempo em que a diversidade deve ser respeitada, acolhida e valorizada, tempo em que mais uma vez somos convidados a pensar em nossas escolhas. É tempo de planejar o que queremos de fato conquistar.
Que 2023 nos traga ótimas reflexões e excelentes mudanças! Que o discernimento seja o nosso parceiro na construção de uma trajetória feliz!